Placeholder

Necropolítica,o desprezo que mata!

Acabou a brincadeira. Partiu-se o espelho do brasileiro cordial e, debaixo das faces lisas de Thor e de Barbie, revelaram-se as feras com as mãos sujas deste sangue, e que nunca se importaram. Quem não se levanta contra o racismo é cúmplice! Seu desprezo permanente por inúmeras vidas acaba em mortes. Por muito tempo achou-se que era coincidência: os meninos carvoeiros do Ninho do Urubu, a tragédia das barragens, as cadeias e senzalas lotadas de pretos. Até agora ninguém ligava uma coisa à outra. O olhar da Casa Grande, mesquinho na sua arrogância, é limitado. Por não conhecer fundamentos da nossa cultura comete terríveis gafes, são mal educados, grosseiros de narizes em pé. Não quero um mundo só de pretos. Sou Mandela. Quero um mundo misturado e igualitário. Meu pai não deixava que só ganhássemos no jogo ou que nele roubássemos. Éramos irmãos! Lutou contra uma pátria desigual e sabia que a violência é produto direto da desigualdade, onde não há paz possível. Quem ganha o jogo sempre tripudiou em cima da situação. Fez turismo e escrotas alegorias com nossa história, e nossa voz não era ouvida. Eram apenas vozes do gueto, não representavam a "maioria" da população. Te confesso que estou adorando esse momento. Lutei por ele. É hora dos brancos sentirem vergonha por estarem chafurdados e cúmplices numa trama sórdida, homicida e diária. Não é metáfora. A empregada que trabalhou na sua casa, cujo sobrenome você nunca soube, e que não teve futuro sonhado, escolhido, foi vítima do seu racismo. Não tem desculpa. Matemática simples: a nova escravidão tratou de deixar de fora do jogo o povo negro. Tirou dele sua infra estrutura, deixou uma camada finíssima, inexpressiva de proteção como guarda e por qualquer coisa ele é preso, pra ele não tem vaga, não tem emprego, não tem direito, pra ele bala, suspeita, porta fechada, morte na fila do SUS. Isso não é mimimi nem vitimismo. Isso é tragédia e tem atores, gente que faz o papel de preservar a crudelíssima máquina. Sem informação, sem saúde, sem educação, você consegue que um povo até agradeça migalhas.

O que não se esperava era que entrar no sistema público de inclusão educacional iria mudar para sempre a história contemporânea deste país! Mesmo agora em pleno retrocesso há avanços, inclusive avanços reativos ao retrocesso, e temos mais pretos preparados no quilombo, mais "minorias". Entre estes, índios, trans, gays, travestis, lésbicas chegaram ao patamar da cidadania estudando em universidades públicas,como democraticamente deve ser, ou em conceituadas particulares onde nunca chegariam por conta do separatista e ariano sistema. Nos coletivos virtuais, nos espaços físicos de organização, nas periferias e em toda parte, entrou com sede nos salões da Casa Grande, uma legião de pobres com acesso ao saber. Isso muda o jogo, a verdadeira liberdade é a educação! Com ela, fica justa a disputa. Sem ela, é como se a dominação branca não se garantisse e precisasse roubar no jogo, deixar o adversário desarmado, sem comida, para mais covardemente abatê-lo. O quadro fez com que acreditassem que quase não se vê pretos em glamourosas ou ricas situações por uma questão de mérito, pois "eles não conseguem". Mas agora a coisa mudou. O quilombo contemporâneo, preparado, do qual orgulhosamente faço parte, não vai dar descanso, ô branquitude! Abriu-se a caixa branca e está exposta a conivência de muita "gente boa". Não há outro jeito senão rever tudo, pois não vamos parar. Nunca fizemos chacota com a dor do povo judeu e não vamos mais admitir que o façam com a nossa. Não mais passarão tais narrativas. Mudem a prática. Nos multiplicamos. Somos Marielles renascidas. Ninguém pode dar ré nesse Brasil novo. Nossa voz nunca foi tão ouvida. Não adianta tentar nos dividir, conhecemos a técnica. Quem está chegando na luta agora nos escute, temos experiência e afirmo que é hora de descer do salto e parar de contribuir com o genocídio negro no Brasil. Na injustiça as tragédias são anunciadas. Cada jornalista que não critica a proposta do Moro que autoriza a matar, do Witzel que manda mirar na cabecinha, cada omissão de qualquer "cidadão de bem" diante da escravidão moderna, está se banhando nesse sangue, é também algoz.

Estou vendo muita gente branca bacana, amiga, assustada, correndo atrás do prejuízo, descobrindo agora que foi conivente com a merda toda. E eu vim dizer: se apresse, pois o seu desprezo nos mata e era pra sermos irmãos!

Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.

Oops, este conteudo não se pode carregarporque tem problemas de conexão