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8 de março. Escrevo depois de encontrar minha tia linda de 85 anos. Tialmira vai à academia cinco vezes por semana, à missa, viaja e curte sobrinhos, filhas e netos. Atravessou o tempo fazendo TUDO para todos em casa. Hoje desfruta de uma velhice mais altiva e independente por causa da luta das feministas! Quando uma mulher sai pra trabalhar,  está envolvida com o feminismo. Foi o que lhe garantiu tal direito! O ativismo feminista é que luta pra que nossos salários sejam equiparados aos dos homens, uma vez que gênero e competência não comportam uma lógica plausível. Quem se utiliza alguma vez da proteção da NECESSÁRIA Lei Maria da Penha está envolvido com o feminismo. Essa palavra assusta a quem não entendeu ainda o que é.  Mas não é palavra má, juro! E é muito diferente do machismo. Não quer oprimir o homem, maltratar, inverter o jogo insano do poder. Tal qual nós negros, mulheres querem igualdade de direitos. E não vingança. Eu hein! Seria um massacre: negro e mulher resumem a palavra maioria!

Rosinha, minha amiga, caseira de uma casa do interior do Brasil, quando teve dengue, viu cinco parentes em sua casa fazendo mil coisas por ela.  Eu disse, isso que você faz é trabalho de cinco pessoas. Ficou pasma. Tempo. Hoje não faz mais este sobre-humano esforço. O marido estranhou quando ouviu:  Cardoso, hoje se quiser jantar, faz! Tô sem fome. Ah, enchi! Lá no trabalho me pagam. Aqui nem veem o que faço. Agora caminho de manhã e, quando volto do serviço, me banho, ponho as pernas pra cima e vou ver televisão. As filhas aprovam a mãe.  Essa mulher está empoderada de seu lugar. Só isso.  Achava, até o feminismo entrar em sua cabeça, que não era direito descansar. Mulher era sinônimo de sacrifício. Rosinha está envolvida.

Custou às mulheres o direito de estudar, de usar calça comprida, o dever do direito de votar, as conquistas em creches e licenças-maternidade! Tudo custou demissões, separações conjugais,  exclusões, má fama das corajosas mulheres, que muitas vezes deram seu sangue e vida para se rebelar contra seus maridos bêbados autoritários,  muitas vezes estupradores conjugais, e ou ameaçadores da prole. Essas heroínas garantiram que chegássemos até aqui. Pense: há pouco tempo um estuprador que se casasse com a vítima se livrava da pena; assassinos de mulheres que traíram seus cônjuges se safavam por "legítima defesa da honra".  Pois bem, pense: você acha que uma mulher escreveria uma lei que a obrigasse a se casar com seu algoz, seu violento agressor? Criando tais leis, os homens legislaram absolutamente a favor do machismo, também estrutural de nossa sociedade desigual e cruel. Pois foi a luta de algumas mulheres, para o bem de todas, que transformou crime passional em feminicídio. Crime de ódio, meu   Deus! Matou por ser mulher.

E assim foi na luta pelo direito de ter prazer e até de demonstrá-lo sem ser moralmente condenada. O direito de não se casar, de namorar outras mulheres. Tem gente que não é feminista até o dia em que liga os fatos. Mas é bom. Sou também uma aprendiz do novo feminismo das meninas.

 Para criar uma camada de cidadania protetora do feminino é que o feminismo existe. Simples assim. Nunca é contra o homem. O feminismo não mata. É vida. É nossa luta que tornou possível que Damares fosse ministra. Ainda lutamos pela presença de mais mulheres no parlamento. Neste momento em que avança também o feminismo da mulher negra, a que morre mais e recebe ainda menos, não se pode admitir uma "representante" que, com o dinheiro público também vindo do trabalho dessas mulheres, é contra as lutas que nos tira da linha da humilhação.  Protagoniza estranhas notícias como a do kit macumba nas escolas. Incentiva a intolerância religiosa, recrudesce o preconceito contra esta fé. E o faz, inconstitucionalmente, num estado laico e democrático. Escrevo segura de que a maioria das leitoras não quer ser invadida dentro dos ônibus por um desconhecido, por isso comemora a lei de importunação sexual e quer ver suas filhas protegidas dos abusos psicológicos e físicos que usam a palavra amor. Quem é parlamentar está envolvida com o feminismo também, porque tudo isto é conquista nossa! De todas. Até de quem pensa que não lutou, pois o sofrimento de todas contou! João de Deus caiu pelo fim do nosso silêncio.

Queremos uma ministra dos Direitos Humanos que proteja nossos direitos. Afinal, cada mulher é também, e se quiser, uma casa da humanidade.  Cuidar da mulher é cuidar do mundo.