A iluminação das cidades e seus equipamentos - Parte 1
Iluminação traz dignidade ao cidadão, portanto deve ser projetada com responsabilidade e dentro das normas brasileiras.
A iluminação é um dos serviços mais básicos. Por aqui, em 1794, tivemos a primeira cidade com iluminação pública, o Rio de Janeiro, ainda com óleos, além da necessidade de pessoas acenderem as luminárias, uma a uma, diariamente. 60 anos após, o Barão de Mauá trouxe o sistema a gás, e 29 anos depois, Campos dos Goytacazes recebeu o primeiro sistema de iluminação elétrica, somente dois anos após o sistema ser apresentado em Paris por Thomas Edison.
A iluminação estende a interação em uma cidade, potencializa o comercio e a produção industrial. A evolução trazida é incontestável, além de alcançar as vias públicas, permitiu a arquitetura novos tipos de construções, com janelas menores, pé direito mais baixo, compartimentos sem iluminação externa, dentre outros. O embelezamento dos elementos das cidades também é enriquecido pela iluminação, à noite fica com um charme todo especial.
Como qualquer projeto, o sistema de iluminação deve ser desenvolvido por quem entende e está habilitado tecnicamente para tal. Não se trata de colocar uma “luz” em um determinado ponto para melhorar a segurança; fazendo da forma errada, pode até piorar. Por outro lado, há a eficiência energética que deve ser tratada com muito rigor.
Quando se deseja iluminar um determinado local, devemos entender as necessidades e o contexto ao qual está inserido. Começamos selecionando a temperatura de cor da iluminação e não pelo consumo, definido em watts - W, há uma série de outros fatores que precisam ser considerados.
A temperatura de cor tem relação com o círculo circadiano do ser humano. Naturalmente, nosso corpo ajusta o biorritmo no decorrer do dia em função da intensidade de luz e da temperatura de cor (mais quente ou mais fria). Como no passado, antes da iluminação artificial, vivíamos 90% de nossas vidas ao ar livre, nosso corpo funcionava em função da luz do dia, hoje isso se inverteu e passamos mais de 90% do dia em ambientes internos, daí podemos influenciar com a temperatura de cor. Cores mais frias elevam o nível de excitação suprimindo a produção de melatonina, incentivando a produção de dopamina, serotonina e cortisol, o que é ideal para ambiente de trabalho ou que necessitem de atenção, como uma rodovia. A maior quantidade de luz branca azulada estimula também os fotorreceptores ipRGC - Intrinsically photosensitive retinal ganglion cells, que fazem a pupila ficar menor aumentando a acuidade visual, um dos motivos que indicam que estádios de futebol devem ter temperatura de cor na casa de 5.600K.
Cores mais quentes, na casa de 2.700K (aquela amarelada da lâmpada incandescente), trazem o relaxamento, ideal para uma residência ou uma sala de espera. Já em unidades hospitalares, onde o paciente é submetido a um ambiente sem influência da luz do dia, é preciso simular o ambiente natural, auxiliando em sua recuperação, para tal existem luminárias que variam a temperatura de cor.
A partir daí o tipo de sistema é definido e o projeto é iniciado.
Pontos principais a serem considerados para uma iluminação de qualidade, de acordo com as normas ABNT NBR 5461:1991 – iluminação, NBR ISO/CIE 8995-1 - Iluminação de ambientes de trabalho, NBR 16966:2021, NBR 5181:2013 (em revisão) – iluminação de túneis, NBR 5101:2018 (em revisão) - iluminação pública, NBR 16966:2021 - iluminâncias para pátios ferroviários:
• Controle do nível de ofuscamento - a luz direcionada ao seu olho faz a pupila fechar e parece mais escuro do que na verdade é.
- É a sensação produzida dentro do campo de visão, que pode ser percebida como um simples desconforto visual ou até como um ofuscamento que te inabilita a identificar o cenário.
• Uniformidade – a iluminação deve ser homogênea no local a ser atendido, seja em uma via pública, uma quadra esportiva ou mesmo em uma mesa de trabalho.
oa iluminância deve se alterar gradualmente. Por exemplo, a uniformidade em uma mesa de trabalho não pode ser menor que 0,7. A uniformidade da iluminância no entorno imediato, desta mesa, não pode ser inferior a 0,5, sendo o valor 1 correspondente a 100% de uniformidade.
• Quantidade de luz ou iluminância (unidade em lux)
- A quantidade de luz sobre a área desejada é definida em três planos de referência, horizontal, vertical e inclinado. Há uma iluminância média para cada tarefa, independentemente da idade e condições da instalação. Os valores são válidos para uma condição visual normal e são levados em conta os seguintes fatores:
- As necessidades para o adequado desenvolvimento da tarefa visual;
- A segurança;
- Aspectos psicofisiológicos assim como conforto visual e bem-estar;
- Economia;
- Experiência prática.
• Reprodução de cor – esquecida e confundida com a temperatura de cor de uma luminária ou lâmpada.
oÉ fundamental, e como exemplo podemos destacar três situações, a primeira, na segurança pública, os agentes precisam identificar a cor da roupa e dos veículos dos suspeitos. Outros dois bons exemplos são os da percepção da qualidade de um alimento e, por último, a identificação do estado de um paciente que acessa uma unidade hospitalar. Já pensou o médico perceber o paciente com coloração similar à de alguma doença e dar o encaminhamento errado? O nível adequado de reprodução de cor ajuda no desempenho visual e melhora a sensação de conforto e bem-estar. Para que possamos identificar a qualidade de iluminação de uma lâmpada, existe o índice geral de reprodução de cor Ra, também conhecido como IRC – índice de reprodução de cor. O valor máximo de Ra é 100 – referência é a luz do sol. Este valor diminui com a redução da qualidade de reprodução de cor. Não se recomenda a utilização de lâmpadas com Ra inferior a 80, embora no mercado encontremos facilmente com valores menores ou mesmo não informado no produto.
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Na próxima coluna vamos falar sobre projetos e exemplos de iluminação em equipamentos públicos.
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