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A incipiente ascensão de Jazzmeia Horn

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Em meados de 2017, estávamos próximos de abrir a primeira filial de um Blue Note na América do Sul, mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro. No clima de euforia e expectativa, fizemos uma reunião artística para debater nomes internacionais para a casa. Além dos já “bookados”, foi solicitado a todos que pesquisassem novos nomes, principalmente as revelações do mercado, para avaliarmos as possibilidades dentro do calendário.

Macaque in the trees
Jazzmeia Horn (Foto: Arquivo)

Madrugada adentro, me deparei com a cantora Jazzmeia Horn, que debutava seu primeiro disco, “A Social Call” (Concord Records). O interesse inicial veio do nome, afinal alguém que leva “jazz” no nome, já começa com créditos na pesquisa não é mesmo? Mas as iniciais eram apenas um detalhe perante a potência e criatividade do som da cantora de 25 anos, vencedora do concurso Thelonious Monk. Com uma poderosa voz, improvisos bem articulados e um repertório que mescla composições próprias e regravações de sucessos, ela foi minha sugestão principal para o nosso time artístico na época.

Se à época não foi possível trazê-la devido à turnês previamente agendadas, a admiração permaneceu e passei a acompanhar a trajetória da, até então pouco conhecida, Jazzmeia Horn. Pude, então, ver, de perto, a sua explosão no mercado, com direito à indicação ao Grammy pelo melhor álbum vocal de jazz e a diversos outros prêmios. Nascia uma nova estrela no mundo do jazz.

Dois anos se passaram, o Blue Note abriu no Rio e em São Paulo, e Jazzmeia seguiu se apresentando pelo mundo. A expectativa de um novo disco deixou, claro, todos os jazzóflios ansiosos. E, finalmente, a espera acabou, pois na última sexta-feira, foi o lançamento de “Love and Liberation” (Concord Jazz). De quebra, a cantora anunciou uma apresentação em solo brasileiro, no Theatro Municipal, dia 11 de outubro.

Falando sobre o disco, as doze faixas (oito originais e quatro reagravações) mostram novamente as habilidades vocais de Horn, ainda mais aprimoradas, com músicas repletas de relevância pessoal e mensagens sociais, e progredindo em improvisação e versatilidade. Há uma grande variedade de estilos, do jazz, ao scat, passando pelo blues, R&B, sempre com instrumentação variada, desde banda completa a apenas um instrumento, e até um dueto a capella.

A abertura com a faixa “Free Your Mind” traz um ótimo ritmo e a mensagem jazzística de paz e liberdade, muito comum nos anos 60 em faixas de Coltrane e Betty Carter. Com a banda afiadíssima, a faixa é um belíssimo cartão de visitas para a sequência, que apresenta “Time”, uma romântica melodia de R&B, e “Out of Window”, swingada e agitada na dose certa. Liberdade e amor, não é mesmo?

Também me agradou muito a faixa “When I Say”, composta em homenagem a suas filhas, com um compasso rítmico curto, e muito improviso no alcance vocal de Horn. “Still Tryin” e “No More” mostram seu lado enraizado no blues, proclamando todo seu poder feminino. Impossível não destacar o pianista Sullivan Fortner, perfeito no acompanhamento e nos comentários dentro das faixas. “Legs and Arms” mostra uma balada fácil de ouvir com ótimo solo do saxofonista Stacy Dillard. “I Thought About You”, clássico da dupla Jimmy Van Heusen e Johnny Mercer , fecha o disco com Jazzmeia acompanhada apenas pelo baixo de Ben Williams. E precisa de algo mais?

Batizada pela avó, amante do jazz e pianista, Jazzmeia Horn escreve mais um capitulo de sua meteórica ascensão. Sua animação com “Love and Liberation” foi tanta que ela não se conteve em declarar na última semana: - As pessoas não sabem o que estar por vir. Dentro de “minha loja” tenho muitas coisas para serem mostradas, estou apenas no começo.

Ainda bem.

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