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O ousado (e improvável) plano da Tesla para veículos autônomos

Veículos autônomos prometem revolucionar o setor automotivo, mas, apesar de projeções de vendas robustas desta categoria em algumas décadas, o grande filão parece estar em operações de transporte de pessoas, um mercado com potencial na casa dos trilhões de dólares. Companhias como Uber e Lyft dependem da tecnologia para tornar seus modelos de negócio viáveis, cortando os motoristas da jogada. A Waymo começou a operar um serviço deste em pequena escala nos EUA em 2018. GM e Ford têm projetos parecidos para os próximos anos. A Tesla foi a última a revelar seu plano e, como não poderia deixar de ser em uma empresa de Elon Musk, ele é bastante ousado - e bem improvável de ser cumprido, pelo menos no prazo prometido.

No final de abril, a montadora realizou o Autonomy Day, evento no qual abriu sua visão para o futuro com veículos autônomos. Dentre vários anúncios, uma previsão chamou a atenção. Segundo Musk, já em 2020 haverá cerca de 1 milhão de “robotáxis” da Tesla buscando e levando passageiros aonde eles desejarem. A operação ocorrerá apenas em algumas cidades onde a regulação permitir e funcionará assim: donos de carros da marca colocarão seus veículos para integrar a frota enquanto não os estiverem usando (no horário de trabalho, por exemplo), rendendo por volta de US$30 mil ao ano a estas pessoas, com a Tesla ganhando uma comissão entre 25% e 30%. A montadora também complementará a frota com veículos próprios.

O bilionário disse ainda que os carros, ao contrário do que acontece tradicionalmente, irão se valorizar com o tempo, à medida que novas capacidades autônomas forem adicionadas por meio de atualizações de software – a estimativa é de um aumento de até US$250 mil em três anos. Vale lembrar que, atualmente, todos os modelos da Tesla, segundo a empresa, vêm com hardware suficiente para serem 100% autônomos e com o Autopilot instalado de fábrica, um sistema que pode, de forma automática, controlar, acelerar e frear o veículo. Há ainda uma opção extra, a Full Self-Driving, com capacidades superiores, como trocar de pistas, fazer ultrapassagens em rodovias e sair de uma vaga sozinho e ir até o dono. Em breve, os carros também poderão reconhecer sinais e placas de trânsito. Porém, apesar de avançado, estes sistemas são considerados nível 2 de 5 possíveis na escala de autonomia. Por isso, as afirmações de Musk deixaram desconfiados analistas financeiros e especialistas no assunto.

Alguns destes analistas, em declarações a CNBC, descreveram o plano como incompleto, com muitas questões que ficaram sem respostas, tanto que as ações da Tesla caíram após o evento. Rodney Brooks, professor emérito de robótica no MIT, foi ao Twitter apostar que, em 31 de dezembro de 2020, “haverá zero robotáxis da Tesla nas ruas”. Tamanha desconfiança é oriunda de três fatores: primeiro o regulatório, afinal ainda não há leis que tratem de forma ampla a massificação de veículos autônomos e dificilmente haverá no prazo estipulado; segundo o tecnológico, já que, apesar da tecnologia ser confiável em ambientes controlados, em situações inesperadas ela ainda mostra deficiências, o que faz com que as empresas tenham muito cuidado em emprega-la. A já citada Waymo, tida como a mais evoluída no segmento, apesar de ter lançado um serviço em dezembro passado em Phoenix, mantém o mesmo restrito a uma área de 160 km² no subúrbio da cidade e libera novos usuários aos poucos, tanto que chegou a mil clientes apenas semana passada, após cinco meses de operação.

Por último, conta contra a Tesla o conhecido histórico de prazos não cumpridos por Elon Musk. Um exemplo foi a promessa de que, no final de 2017, um carro da montadora atravessaria os EUA se autodirigindo, sem que fosse necessário usar volante e pedais. Não aconteceu. O empresário reconheceu sua fama ao ser questionado sobre isso durante um call com investidores, mas disse que sempre acaba entregando o que promete – o que, diga-se de passagem, também costuma ser verdade. Então é bem capaz de que a visão dele se realize; o que duvido mesmo é que seja ano que vem.

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