O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Copom deve elevar Selic a 13,75%, mas...

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Publicado em 03/08/2022 às 13:56

Alterado em 03/08/2022 às 13:56

Gilberto Menezes Côrtes JB

As análises dos principais bancos e consultorias econômicas são unânimes: o Brasil, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deverá elevar a taxa básica Selic em 50 pontos-base, para 13,75% ao ano, em sua reunião de hoje (3 de agosto). A maioria espera que seja o fim do ciclo de alta dos juros, iniciado em março de 2021, quando a Selic estava em 2% e subiu para 2,75% ao ano. Mas o mercado aguarda as entrelinhas do comunicado do Copom, após a reunião para ser se a porta continua aberta para mais um ajuste adicional de 0,25 p.b. em 21 de setembro.

Ao analisar o cenário, em seu Boletim Diário, o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco, acredita que o Banco Central vai elevar a taxa Selic em 0,50 p.p., para 13,75% e completa que os mercados devem monitorar o comunicado da decisão e eventuais pistas sobre os próximos passos da condução de política monetária. O Itaú espera o mesmo. Acredita, porém, que o Copom vai deixar “a porta aberta para eventual elevação final na reunião de setembro, em caso de deterioração do cenário de inflação ou expectativas do mercado”. Se houver alta em setembro, ela seria de 0,25% para 14% ao ano.

O Itaú chama a atenção que nas mesas de decisões de negócios e investimentos, “com a aproximação da eleição, se tornará cada vez mais importante acompanhar as novas rodadas de pesquisas eleitorais”.

Copom e as eleições

Já a LCA Consultores, em análise mais profunda, de Cenário avalia que “este será o derradeiro ajuste do atual ciclo de aperto monetário. O principal fator a amparar essa avaliação é a perspectiva de que, até o Copom voltar a se reunir, em 21 de setembro, o IPCA vá registrar deflação em julho e agosto, graças às desonerações tributárias pré-eleitorais. Mas (há sempre o mas em todas as análises), as chances de extensão do ciclo de aperto são relevantes, pois a incerteza global ainda é bem elevada e as medidas de tendência da inflação no Brasil seguem em níveis incompatíveis com o cumprimento das metas”.

Na avaliação da LCA, “é preponderante a probabilidade de que a elevação da Selic seja a derradeira do ciclo de aperto monetário iniciado em março do ano passado. O principal fator a amparar essa avaliação é a perspectiva de que, na reunião seguinte do Copom, em 21 de setembro, a autoridade monetária terá observado duas leituras consecutivas do IPCA com taxas negativas de variação, referentes a julho e agosto (meses que concentrarão o alívio proporcionado pelas desonerações tributárias de combustíveis, energia elétrica e comunicações). Ainda que evidentemente derivadas dessas desonerações pré-eleitorais, esses dois meses de deflação contribuirão para aliviar a pressão para que a autoridade prossiga com o ajuste monetário”.

Mas a LCA reconhece que “as chances de extensão do ciclo de aperto são relevantes. Além da percepção de que o arrefecimento súbito das leituras mensais do IPCA será fruto das desonerações tributárias pré-eleitorais - um elemento significativo, porém pontual -, o Copom encontraria justificativas para prosseguir com o aperto monetário, ainda que a um ritmo mais cauteloso, nos seguintes fatores:

1 - a incerteza no ambiente externo continua muito elevada, com a inflação global ainda resiliente;

2 - as medidas de tendência inflacionária ainda estão incompatíveis com o cumprimento das metas de inflação;

3 - o "pacotão pré-eleitoral" dará impulso ao consumo no curto prazo; isso poderá conferir persistência a componentes do IPCA que são mais sensíveis ao ciclo econômico;

4 - as expectativas de inflação para 2023 estão acima do teto da meta e continuam a se deslocar para cima, ao passo que a mediana das projeções para a inflação de 2024 encontra-se algo acima do centro da meta; e

5 - a percepção de risco fiscal aumentou com o "pacotão pré-eleitoral" e levou o próprio Copom a elevar as suas estimativas de juro real neutro”.



Lula ainda venceria no 1º turno

Na Pesquisa Quaest/Genial Investimentos, divulgada nesta 4ª feira, 3 de agosto e auscultada entre os dias 28 e 31 de julho junto a 2 mil entrevistados, dos quais 80% já tinham conhecimento do aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 e que começará a ser pago dia 9 de agosto (duas prestações, de julho e agosto), junto com o Vale Gás Lula ainda venceria nas intenções de votos no 1º turno, com 51% dos votos válidos (no voto estimulado, 44% declararam que apertariam o 13 de Lula em 2 de outubro, enquanto 32% escolheriam o 22 de Bolsonaro).

Mas a liberação de R$ 41,2 bilhões para os brasileiros até 31 de dezembro, junto com desonerações de impostos para energia elétrica, comunicações e combustíveis é a aposta do governo para mudar o voto do eleitor e garantir o 2º turno em 30 de outubro, quando outra rodada de benefícios seria distribuída. O dia 9 de agosto, a uma semana da campanha eleitoral no rádio e TV abre a temporada de duas semanas de liberações diárias de recursos do Auxílio Brasil e do Vale-gás, que será complementada, a partir de 16 de agosto, com as liberações de duas parcelas de R$ 1 mil do vale-caminhoneiro para quase um milhão de motoristas autônomos (o mês fecha com as liberações de R$ 1 mil a taxistas).

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