O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Pesquisa indica 2º turno na véspera do AB/R$ 600

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Publicado em 08/08/2022 às 12:49

Alterado em 08/08/2022 às 12:49

Gilberto Menezes Côrtes JB

Magalhães Pinto, fundador do Banco Nacional, e um dos mais influentes políticos da UDN, dizia que “política é como nuvem; em cada momento está diferente”. As pesquisas eleitorais, que procuram “fotografar” as nuvens, não cansam de demonstrar isso. Embora não seja recomendável misturar alhos com bugalhos, ou seja, só cabe comparar uma pesquisa com a anterior do mesmo instituto (DataFolha, com Datafolha, XP/Ipespe com a anterior, etc) e não entre elas, pois a metodologia, universo e “modus operandi” são diversos, é certo que as pesquisas estão mudando na virada de julho para agosto e já não garantem a vitória de Lula no 1º turno, em 2 de outubro.

Tudo porque os fatos estão mudando o cenário a menos de dois meses do 1º turno. E esta será uma semana agitada na economia e na política, com fatos que podem mudar a tendência dos eleitores. Na véspera dos primeiros pagamentos do novo Auxílio Emergencial de R$ 600 e do Vale-gás (amanhã, dia 9 de agosto), a pesquisa produzida pelo Instituto FSB para o banco BTG Pactual, divulgada hoje e realizada dias 5 a 7 de agosto com 2.000 pessoas ouvidas por telefone (a pesquisa não informa o universo de municípios, como as demais), apontou a redução da diferença no voto estimulado entre Lula, que continua liderando com 41% das intenções de voto a 34% para Bolsonaro.

Na pesquisa anterior da FSB/BTG, divulgada em 15 de julho, Lula tinha 44% de intenções no voto estimulado e Bolsonaro 31%. Ou seja, Lula caiu três pontos e o presidente Bolsonaro avançou três pontos. Entre uma e outra pesquisa teve início a redução dos preços dos combustíveis e da energia elétrica, pela baixa do ICMS (depois a Petrobras, acompanhando a queda do preço do barril do petróleo e dos combustíveis no mercado internacional), baixou duas vezes a gasolina e uma vez o diesel em suas refinarias) e foi aprovada a PEC das benesses, que vai despejas R$ 41,2 bilhões nos bolsos de milhões de eleitores até 31 de dezembro, prazo de validade da redução do ICMS e dos benefícios.

Os fatos políticos estão agitando o debate e as reflexões entre os eleitores. No domingo, a Rede Bandeirantes promoveu debate entre os candidatos a governadores em 18 estados, onde as candidaturas de Lula e de Bolsonaro ora foram expostas (caso de São Paulo, maior colégio eleitoral do país), ora escondidas (caso de Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, 3º colégio, que evitou colar em Bolsonaro). Em Minas Gerais (2º colégio), para fugir da definição, já que posa de neutro, o governador Romeu Zema (Novo), que lidera as pesquisas, faltou ao debate, alegando indisposição, sendo atacado por Alexandre Kalil (PSD), associado a Lula, e o senador Carlos Viana, do PL, partido de Valdemar Costa Neto a que se filiou Jair Bolsonaro. Na Bahia (4º colégio), ACM Neto, do União Brasil, também faltou ao debate para não se definir e tentar angariar votos dos eleitores de Lula e Bolsonaro.

Febraban e Fiesp se definem

Na semana passada, sob a liderança da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, atualmente presidida por Josué Gomes da Silva, empresário têxtil, filho do ex-vice de Lula, José Alencar, uma série de entidades da área empresarial tomou carona na “Carta às Brasileiras e Brasileiros”, que será lançada dia 11 no pátio da Faculdade de Direito de São Paulo, já com mais de 800 mil assinaturas, e lançou o “Manifesto pela Democracia”, incluindo a Febraban, a Federação Brasileira dos Bancos.

Então, o ministro da Casa Civil do governo, senador licenciado Ciro Nogueira, disse que os banqueiros lançaram o manifestou em protesto pela “redução dos lucros no governo Bolsonaro”. Não é isso que os balanços estão demonstrando. Após as perdas na pandemia, quando os bancos tiveram de fazer enormes provisões para os devedores, os lucros voltaram a crescer, junto com a escalada dos juros que provoca endividamento em bola de neve dos tomadores de crédito. Hoje à noite o Itaú divulga o seu balanço do 2ª trimestre.

Mas, em vez de lançar programas para refinanciamento das dívidas de mais de 66 milhões de brasileiros, o presidente Bolsonaro, de modo irresponsável, anunciou que vai facilitar o crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil e dos programas de benefícios que acabam em 31 de dezembro. A Febraban, na pessoa do seu presidente Octávio de Lazari Júnior, que também preside o Bradesco, adiantou que os grandes bancos privados, a começar pelo Bradesco, não vão estender os empréstimos a beneficiários temporários.

Pelo sim pelo não, o presidente da República visita a Febraban hoje à tarde. Talvez querendo quebrar a resistência dos bancos privados, cuja adesão seria um trunfo a mais ao festejar, amanhã, a liberação das primeiras duas parcelas de R$ 600 (julho e agosto) do Auxílio Brasileiro e do Vale-gás. Até agora só financeiras pequenas e a Caixa, que é estatal e o Banco Pan, que foi uma parceria da CEF com o BTG-Pactual, e agora é controlado pelo banco de investimento, se dispuseram a operar a linha.

'Carta' será o grande fato da semana

A “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, lida solenemente na manhã do dia 11 (6ª feira) nas arcadas da Faculdade de Direito da USP será o grande fato político da semana. O documento acumulou 720 mil assinaturas até 4ª feira da semana passada e deve caminhar esta semana para um milhão de adesões. No mesmo dia, à tarde, as entidades empresariais vão lançar seu manifesto, em defesa da Democracia.

São dois importantes movimentos que unem setores da sociedade civil e dos meios produtivos em defesa do Estado Democrático de Direito. Ou seja, uma risca no chão, para marcar a linha divisória entre os que defendem a Constituição de 1988 e as instituições que fazem funcionar a Democracia e garantem o cumprimento dos princípios democráticos da Constituição.

Essa demarcação é importante para mostrar quem está do lado oposto e pretende usar a data do 7 de setembro, quando o país deveria estar comemorando o Bicentenário da Independência do Brasil de Portugal, para fazer proselitismo político da ditadura, e investir contra as instituições e as urnas eletrônicas, a começar pelo Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral.

Mercado vê PIB menor e IPCA maior em 2023

Na frente econômica, a Pesquisa Focus, encerrada pelo Banco Central na 6ª feira e divulgada hoje, mostrou o mercado apontando crescimento do PIB este ano (1,98% na pesquisa regular e 1,95% nas previsões já em queda dos últimos cinco dias úteis). A inflação, medida pelo IPCA, deve ser negativa em 0,64% em julho (o IBGE divulga o resultado amanhã) e o Bradesco vê queda ainda maior, de 0,65%, fecharia o ano de 2022 em 7,11% (7,10% nos últimos cinco dias úteis), no embalo da redução dos preços dos combustíveis. Os preços administrados (inclui combustíveis e energia elétrica) ficariam negativos em 1,06%.

Entretanto, como os benefícios terminam em 31 de janeiro (só em 2023 ou depois das eleições poderiam ser prorrogados), o mercado estima que a mágica das canetadas vá durar pouco. Seus efeitos se dissipam após as eleições. Os preços administrados subiriam 7,10% no ano que vem, pressionando a inflação do IPCA que, mesmo com a Selic mantida em 13,75% ao ano no 1º semestre de 2023, atingiria os 5,36% no ano que vem (5,37% nos últimos 5 dias úteis). O efeito colateral da alta dos juros seria a queda do PIB dos 1,98% deste ano para um aumento de apenas 0,40% em 2023.

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