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Duelo ao Sol

Miguel Paiva / JB -
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A fome se combate com armas? Sim, claro. Quando as hordas famintas invadirem as fazendas, os shoppings, os condomínios de luxo, pode meter bala. A falta de escola se combate com armas? Sim, é só seguir o exemplo das escolas americanas e mesmo as brasileiras e sair matando os estudantes a esmo. Vai diminuir o déficit educacional. Problemas no trânsito? Mata quem tiver te atrapalhando. Problemas no casamento? É só atirar na conja e alegar forte emoção. E por aí vai. Na cabeça do Bolsonaro e do seu governo a hora é essa. É disso que o Brasil precisa. Armas para o povo!

Mas peralá! O povo não tem grana pra comprar arma. O povo não é o alvo deste decreto. Ele vai continuar sendo o alvo das armas. As famílias ricas, as milícias, os policiais da banda podre, esses sim vão comprar as armas para estabelecer o faroeste no nosso país já tão armado e violentado.

Macaque in the trees
(Foto: Miguel Paiva / JB)

Jamais imaginei que estaríamos discutindo, ou melhor, nos esquivando das balas perdidas da lei, a essa altura do campeonato. Passamos já por poucas e boas para estarmos regredindo a este estágio de decadência da civilização.

Quem diria numa hora dessas em que o Brasil precisa de saúde, educação, trabalho e moradia que as discussões mais importantes fossem as novas leis antiviolência ( sic) do Moro e a Previdência do Guedes?

Estamos falando de armas e direitos numa hora em que o Estado deveria estar pensando em desenvolvimento social, investimentos em educação, saúde e trabalho. Mas, não. Eles inventaram que este é o desejo do eleitorado. Tenho dúvidas. Primeiro que boa parte de quem manifestava a opinião a favor das ideias do Bolsonaro era composta por robôs. Foi provado. A massa que votou nele não sabia muito bem o que queria. Sabia o que não queria e obsessivamente saiu disparando, sem trocadilhos, suas opiniões mais rudimentares. Mas ser a favor da liberação das armas é outra coisa. É uma decisão bastante discutível. O povo não quer armas. A obrigação de acabar com a violência é do Estado e não do cidadão. Querer o povo armado e assinar embaixo da própria incompetência de governar.

O Brasil não é a casa da Mãe- Joana, com desculpas à D. Joana, mas está virando uma zona, com desculpas também às moças da vida. Como esse Estado que está ai prega o estado zero, acha, equivocadamente, que tudo deve ser feito pela iniciativa privada. Se enganam ao achar que o liberalismo que vingou na Europa concorda com isso. O liberalismo quer a presença do Estado nas coisas mais fundamentais para que a iniciativa privada possa investir com tranquilidade no país. Estado no caso quer dizer, saúde, educação, moradia e transporte público. O resto pode ser iniciativa privada.

Não sei onde vamos parar armados desse jeito. Provavelmente vamos contar mortos e feridos e se entre eles escaparmos já estamos no lucro. Lucro? Êpa, falei a palavra chave. Eles querem o lucro mas não esse de continuar vivos. Um país não tem que dar lucro. Um país não é uma empresa. Tem que pensar nos seus cidadãos. Eles são o objetivo principal. Desenvolvimento social com um Estado que olha por todos.

Aqui neste novo governo ainda não ouvi essas palavras que significam o caminho a seguir. O Moro, que nunca me enganou na sua mediocridade, inventa desculpas quase envergonhadas para as sandices que o presidente diz e decreta. Armar a população que pode comprar armas só vai envergonhar mais ainda quem se diz arauto da justiça e pretende o STF.

Também ouvimos falar da Reformada Previdência que está sendo usada como uma grande chantagem nacional. Se for aprovada, muito bem. Se não for, salvem-se quem puder. Da dívida das grandes empresas com a Previdência ninguém fala. É grana pra cacête e querem que os pobres aposentados tapem o buraco.

Isso não vai dar certo. Espero só que o Brasil encontre o caminho, depois do duelo. O mocinho e a mocinha cavalgando pelas pradarias com o sol se pondo e Happy End, ao invés de The End escrito na tela.