Mulher negra é retirada à força de voo da Gol após não conseguir guardar mochila no bagageiro

JORNAL DO BRASIL ( [email protected] )

Uma mulher negra, identificada como Samantha Vitena, foi retirada do voo 1575 da Gol antes da decolagem em Salvador, com destino a São Paulo, "por motivo de segurança". Os apresentadores Manoel Soares e Rita Batista, da TV Globo, usaram seus perfis nas redes sociais, na madrugada deste sábado (29), para denunciar o caso de provável motivação racista.

Os passageiros relataram que a vítima acabou tendo dificuldades para conseguir um lugar no bagageiro para guardar sua mochila em decorrência da ocupação total da aeronave. Ainda segundo os relatos, a tripulação teria ordenado que ela despachasse a bolsa. Samantha recusou a proposta pois carregava com ela um notebook, que poderia ser danificado no compartimento de carga.

Foi quando uma confusão se formou, e a passageira acabou retirada à força por três agentes da Polícia Federal. Depois, ela ficou retida no aeroporto. Tudo foi registrado em vídeo que viralizou e gerou acusações de racismo.

"(...) se eu despachasse meu laptop, ele ficaria em pedaços. Os comissários não moveram um dedo para me ajudar. Eles falaram que se a gente pousasse em Guarulhos, a culpa seria minha, porque eu não queria despachar a mochila. Ele teve a coragem de falar isso para mim. A culpa não é porque o voo está há mais de duas horas atrasado. Sendo que faz mais de 1 hora que eu coloquei a mochila aqui e o voo não decolou. Agora, há três homens para me tirar do voo sem me falar o motivo. Eu perguntei e ele disse que não vai falar. E disse que se eu não sair desse voo, ele vai pedir para todo mundo sair, que eu estou desobedecendo e estaria cometendo um crime", diz Samantha na gravação, feita por outra passageira.

Ao se negar a despachar os pertences, Samantha sumariamente foi abordada por um agente, que se aproxima e diz que a passageira está "faltando com a verdade". "Estou lhe tirando da aeronave por determinação do comandante", afirma.

Samantha começa a questionar por que está sendo retirada do avião, enquanto várias passageiras começam a protestar contra a expulsão. Até que um dos agentes federais alega que o comandante, não identificado, ordenou a retirada dela por questões de "segurança de voo". Em nenhum momento da gravação, a mulher apresenta qualquer tipo de resistência contra os funcionários ou os policiais. Mesmo assim, por fim, acaba retirada.

A jornalista Elaine Hazin, que estava a bordo do voo e fez as imagens, publicou a situação nas redes sociais, onde também fez um desabafo. O caso ganhou ainda mais repercussão ao ser compartilhado pelo apresentador Manoel Soares, que prestou suporte a Samantha enquanto ela esteve detida no aeroporto.

"Meu coração está sangrando neste momento. Presenciei agora à noite um caso extremamente violento de racismo, sofrido por uma mulher negra no voo 1575 da Gol, chamada Samantha. Depois de uma hora de atraso, embarcamos e Samantha não conseguia um lugar para guardar sua mochila, o voo estava 'cheio' para ela. A tripulação ignorava completamente o desespero dessa mulher, que era obrigada a despachar a mochila com seu computador - sendo, inclusive, acusada por parte da tripulação de ser 'a razão do atraso'. Conseguimos um lugar para a mochila de Samantha e nem mesmo assim o voo decolou. Mais uma hora de atraso, nenhuma satisfação da cia aérea, gente passando mal no avião e eis que 3 homens da Polícia Federal entram de forma extremamente truculenta no avião para levar a “ameaça” do voo embora - a Samantha", desabafou Hazin.

"Ela se defende mas não reage, alguns pedem pra ela não ir (na maioria mulheres), eu me desespero, todas com muito medo, apreensão e os policiais ameaçam algemá-la. Não dizem a razão de levá-la presa, só que foi uma ordem do comandante. Samantha era uma ameaça por ser uma mulher, ser preta, ter voz. Ela foi levada pela polícia, eu quase fui levada junto por defendê-la, me agrediram, me ameaçaram. A mãe de Samantha chorava desesperada ao telefone por não saber o destino de sua filha. Eu chorava também. Graças ao meu amigo Manoel Soares, Samantha não ficou só e teve o apoio de dois advogados. Mas esta história não termina aqui, queremos justiça", completou

O outro lado

Em nota, a Gol Linhas Aéreas informou que, durante o embarque do voo 1575 com destino ao aeroporto de Congonhas, havia uma grande quantidade de bagagens a serem acomodadas a bordo. “Muito clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente. Mesmo com todas as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo”.

“Lamentamos os transtornos causados aos clientes, mas reforçamos que, por medidas de segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções. A companhia ressalta ainda que busca continuamente formas de evitar o ocorrido e oferecer a melhor experiência a quem escolhe voar com a Gol e segue apurando cuidadosamente os detalhes do caso."

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