MEIO AMBIENTE

Brasil em chamas. Queimadas atingiram área equivalente a Colômbia e Chile entre 1985 e 2022

Amazônia foi o bioma mais atingido, com 19,2% de sua extensão afetada. Desmatamento e pastagem são as principais causas

Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 26/04/2023 às 09:58

Alterado em 26/04/2023 às 11:57

Vista aérea de queimada na Floresta Amazônica, a partir de Porto Velho, Rondônia André Cran/Folhapress

As áreas atingidas por queimadas alcançam 21,8% do território brasileiro, num total de 185,7 milhões de hectares entre nos últimos 37 anos. A extensão territorial equivale à soma do Chile e da Colômbia. É o que revelam os dados do MapBiomas Fogo, mapeamento que contabilizou a extensão consumida pelas chamas entre os anos de 1985 e 2022 a partir de imagens de satélite.

Ainda de acordo com o levantamento, as chamas consomem 1,9% do país a cada ano. O Cerrado e a Amazônia foram os biomas mais atingidos, correspondendo a cerca de 86% da área queimada. O Cerrado queimou em média 7,9 milhões de hectares/ano, ou seja, uma área equivalente ao território da Escócia a cada ano. No caso da Amazônia, a média foi de 6,8 milhões de hectares/ano.

O último ano foi cruel com a Amazônia. Mesmo num período de maior umidade na região devido à ação do El Niño, a área atingida pelo fogo dobrou em relação a 2021, alcançando 6,6 milhões de hectares.

"Se as condições climáticas fossem propícias ao fogo, teríamos uma tragédia" afirmou Ane Alencar, pesquisadora do MapBiomas.

 

O impacto do fogo

Segundo a análise, mais de dois terços (68,9%) das queimadas e dos incêndios ocorreram em vegetação nativa, embora a proporção varie entre os biomas. Campos e savanas, por exemplo, são os tipos de vegetação nativa mais afetados, enquanto Amazônia e Mata Atlântica apresentaram maior incidência de fogo em áreas antrópicas, isto é, alteradas pelo ser humano, tais como zonas de pastagem.

De acordo com a pesquisadora, a maior parte das queimadas no Brasilé causada pela ação do homem e o principal uso do fogo no país é na renovação de pastagens. Na Amazônia, queimam tanto para ocupar áreas desmatadas como no manejo de pasto.

"As queimadas são uma forma insustentável de manejo de pasto na região. É a mais barata, mas não a mais produtiva. Estudos mostram alternativas muito mais produtivas, como rotação de pasto", observou.

O cerrado ocupa o segundo lugar no total de áreas atingidas por queimadas, mas o uso do fogo é considerado parte natural do ecossistema, desde que controlado. Do total queimado no Brasil até 2022, 42,7% estavam no bioma, cujo território afetado por queimados chega a 40%.

Mato Grosso foi o estado que apresentou maior ocorrência de fogo no período analisado, seguido por Pará e Maranhão. Já os municípios que mais queimaram no país foram Corumbá (MS), São Félix do Xingu (PA) e Formosa do Rio Preto (BA). Segundo Ane, o fogo nem sempre é indesejável.

“O fogo só é ruim quando é utilizado de forma inadequada e em biomas que não dependem do fogo para se manter, como a Amazônia. Em biomas como o Cerrado, o Pantanal, o Pampa, o fogo tem um papel ecológico e deve ser manejado de forma correta para não virar um agente de destruição”, explica a especialista.

 

Pantanal em chamas

É o Pantanal, porém, que mais chama a atenção no levantamento: 51,5% de sua área foi atingida por queimadas até o ano passado. Ane lembra que 2020 foi um marco para o bioma. Entre agosto e novembro daquele ano 3,9 milhões de hectares foram destruídos, um recorde. Um estudo realizado por 14 instituições e universidades, brasileiras e internacionais, mostrou que o fogo causou a morte de 16,9 milhões de vertebrados, como lagartos, aves e primatas.