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Comissão da Verdade pede que USP reveja demissão de desaparecida

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Documento entregue na quarta-feira ao reitor da Universidade de São Paulo (USP), João Grandino Rodas, e ao diretor do Instituto de Química da mesma instituição, Fernando Rei Ornellas, pede a revisão da demissão da docente Ana Rosa Kucinski, ocorrida em 1975 por abandono de emprego. Professora do Instituto de Química, Ana Rosa era também militante da Ação Libertadora Nacional (ANL), organização guerrilheira fundada por Carlos Marighella (1911-1969). 

Ela desapareceu no centro de São Paulo em 22 de abril de 1974, quando estava com o marido, o físico Wilson Silva, comemorando o quarto aniversário de casamento. O documento, assinado pela advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, pela Comissão Nacional da Verdade, e o deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), pela Comissão da Verdade de São Paulo, é a primeira ação conjunta das duas comissões, que firmaram acordo de cooperação. 

A USP, por meio de sua assessoria diz que o assunto "foi resolvido na universidade em 1995, quando foi revertida a demissão e a professora foi considerada desaparecida política" por um despacho do então reitor. No entanto, as comissões consideram o ato insuficiente, e pedem que a "Congregação do Instituto de Química (...) reveja publicamente a decisão anterior". As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

O ex-delegado de polícia e ex-agente do SNI Cláudio Guerra disse que Ana Rosa foi assassinada na chamada "Casa da Morte", centro de tortura em Petrópolis (RJ). Segundo Adriano Diogo, "não se contentaram em sequestrar, torturar e matar Ana Rosa. Ainda tentaram destruir a sua memória com calúnias e difamações", disse ele se referindo a um relatório produzido pela Marinha em 1993, a pedido do então ministro da Justiça, Maurício Corrêa (1934-2012). 

O documento traz um registro datado de julho de 1981 sobre Ana Rosa, que traz a versão que ela, que tinha origem judaica, seria um "agente triplo": esquerdista, agente da CIA e informante do serviço secreto israelense. Em carta lida na reunião das comissões da verdade estadual e nacional, o irmão de Ana Rosa, o jornalista Bernardo Kucinski, ex-professor da USP, afirma que o relatório da Marinha é "infame... Desinformação e difamação das vítimas da repressão". 

Segundo Elizabetta Santoro, da diretoria da Associação dos Docentes da USP, 47 uspianos foram mortos por suas atividades de oposição ao regime militar.