Rio: advogados invadem Ipanema; Centro é visto como 'inseguro'

Gilberto Menezes Côrtes ( [email protected] )

O esvaziamento do Centro do Rio, cada dia mais deserto de gestores financeiros, empresários e escritórios de advocacia para lhes darem suporte, ganhou novo capítulo na marcha das bancas comerciais para os bairros da Zona Sul e Barra da Tijuca, onde estão instaladas grandes empresas e gestores de investimento. O Centro é visto como “área de insegurança”.

A mais nova banca a optar por fincar filial em Ipanema é a Fux Associados, com sede na Avenida Rio Branco. O grupo seleto de advogados, do qual faz parte Rodrigo Fux, filho do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, vai se instalar na Barão da Torre, 368, em frente à Praça Nossa Sra. da Paz. E Fux pode reforçar a banca quando se aposentar do STF, em 2028.

Lá funcionou a última versão da boate “Hippopotamus”, investimento de Omar Resende Peres com Ricardo Amaral, que tinha a posse do imóvel de três andares. As reformas devem ficar prontas ainda este ano.

O bairro já conta com 4 dúzias de bancas de advocacia. Rivaliza com o Leblon, também sede de casas de investimentos e de grandes empresas que fazem a festa de advogados, como a Oi, em nova recuperação judicial.

Tendência irresistível

O LDCM Advogados, instalado há três anos na esquina da Rua Maria Quitéria com a Avenida Epitácio Pessoa, onde havia um projeto de restaurante inacabado, foi a 1ª banca a transformar imóveis comerciais em locais de atendimento exclusivo, tendência que só cresce.

Estão em Ipanema filiais das bancas Gandra Miller, Villemor Amaral e Chediak Advogados.

Rio x São Paulo

Instalado estrategicamente, no outro da praça, há mais de cinco anos, o Chediak Advogados ocupa um andar inteiro, com vista de 360 graus, no Fórum de Ipanema. Advogados disputam o privilégio das vistas entre as quatro faces.

A mais disputada é a do mar de Ipanema, seguida pela face que vislumbra o morro dos Dois Irmãos, no Leblon. A 3ª face, de frente para a Praça Nossa Sra. da Paz, vislumbra o Cristo Redentor, a Lagoa e a Floresta da Tijuca.

A face voltada à Praça General Osório, e sem vista “turística”, vislumbrando só prédios e a comunidade do Cantagalo, foi batizada de “ala São Paulo”. Lá são postos advogados novatos e paulistas. Parece maldade...e é.

Leblon está ganhando

O Leblon, cuja parte baixa, cercada pelos canais da Visconde de Albuquerque e do Jardim de Alá, o mar e a Lagoa Rodrigo de Freitas, é a “Manhattan carioca”. Há muito tomou a dianteira de Ipanema como sede de gestoras de investimento e grandes empresas (além da Oi, sedia as Organizações Globo).

A instalação do Shopping Leblon, com sua ala de escritórios, onde está a sede da 3G Capital, dos bilionários Jorge Paulo Leman, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, reforçou o cacife local, que foi a 1ª sede da Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, que transferiu o comando para São Paulo.

E todos saem lucrando...

Mas como onde tem contencioso (os gestores de investimento precisam garantir os direitos dos investidores e credores, como agora na Americanas) é preciso ter a proteção de um bom escritório comercial, especializado em transações financeiras e internacionais. Veirano Advogados é um dos líderes das mais de quatro dúzias de bancas do bairro.

No conjunto, o Leblon bate Ipanema. Conseguiu reunir o trabalho, a residência (muitos moram no Alto Leblon ou os mais abonados, como Armínio Fraga, no Jardim Pernambuco, conjunto de ruas só de casas entre a PUC e a Rua Timóteo da Costa), a assistência jurídica, o lazer e a boa gastronomia.

Gastronomia & negócios

Desde o finado Garcia & Rodrigues, na Ataulfo de Paiva, que foi palco de muitas negociações (e tenebrosas transações) do processo de privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso, os restaurantes do Leblon viraram ponto de partida de grandes fusões e incorporações ou parcerias público-privadas.

Na ciranda financeira do “overnight”, com juros de 90% ao mês, casas noturnas, como a 1ª “Hippopatamus”, de Ipanema, e a “People” do Leblon, eram pontos para celebração de aplicações triangulares nas quais operadores de bancos, distribuidoras e fundos de pensão rachavam gordas comissões, às custas da “viúva” e dos participantes dos fundos.

A noite hoje acaba mais cedo. E os negócios que não foram concluídos no almoço são retomados e concluídos no “happy hour”.

Flamengo também é do Leblon

E antes que me esqueça, embora o antigo estádio do Clube de Regatas Flamengo sempre tenha sido chamado de “Estádio da Gávea”, a sede esportiva do “clube mais querido” (e dos mais vitoriosos) do Brasil é no Leblon.

A divisão do Leblon com a Gávea é o canal da Avenida Visconde de Albuquerque, que corta a sede do Jóquei e deságua junto ao Clube Piraquê, na Lagoa. A entrada da sede social, na Avenida Borges de Medeiros, fica no Leblon, assim como a entrada da sede esportiva, na Rua Gilberto Cardoso.

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