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Dona Dilma que se cuide: a pobreza honrada pode desmentir o ibope

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Um amigo do Facebook fez  por escrito o mesmo comentário que eu acabara de fazer em conversa informal num jantar na casa dos compadres: nem ele, nem eu, nem todas as pessoas com quem conversei sobre o assunto jamais – JAMAIS!!! – algum de nós foi entrevistado por qualquer instituto de pesquisa de opinião. Detalhe: somos todos alegres representantes daquele bravo pessoal da tal melhor idade (argh!), o que vale dizer que ultrapassamos a barreira dos 60 anos. Vivemos (pouco) sob Getúlio,  vimos JK desbravar o Centro Oeste para criar este horror que é Brasília, encaramos a renúncia do destrambelhado do Jânio Quadros, a deposição do Jango, ditadura, generais,  a volta à democracia e às urnas. Tudo isso sem jamais alguém nos perguntar em quem votaríamos  para presidente, governador ou senador.

Agora, a última novidade é que Dona Dilma já estaria reeleita com 41% dos votos, largando na poeira da estrada o Aécio e o Eduardo Campos. Pesquisa do Ibope. Com todo o respeito ao venerando Instituto, tenho cá minhas dúvidas. Eleição e mineração, só depois da apuração – as verdadeiras raposas políticas têm essa máxima como mantra. Cheira mal, no país dos analfabetos, os números da pesquisa. Acho impossível que a presidente tenha recuperado em menos de três meses a popularidade que escorreu pelo ralo durante as enraivecidas manifestações de julho. A tal ponto que Lula já estava a postos para, docemente constrangido, ser reconduzido aos braços do povo. Tem alguma coisa errada aí.

Os assalariados brasileiros, entre os quais me encontro, voltaram àquela paranoia dos tempos da inflação desvairada:  sobra mês e falta dinheiro. No último sábado, chocada ao pagar no Zona Sul aqui do Jardim Botânico, R$ 260 por literalmente meia dúzia de coisas banais – pão, alguns tomates, ovos, frios nacionais – postei minha ira no Face, que funciona como terapeuta quando a gente quer desabafar sobre as mazelas deste Brasil brasileiro. Era um sábado de muito sol, dia de praia, mas registrei mais de 200 posts de apoio à minha indignação. Dois deles de amigos que vivem nos Estados Unidos. A jornalista Ana Maria Bahiana, em Los Angeles, tinha acabado de chegar do supermercado com duas sacolas cheias de queijos, frutas, guloseimas e flores. Gastara U$ 56 – ou qualquer coisa em torno de R$ 110. Em Miami, o chef Fernando Ornstein gastou R$ 260. Comprou salmão escocês, picanha maturada, queijos e vinhos franceses.  Que tal? Tá bom pra você?

A classe média é que elege essa gente. Não creio que elegesse Dona Dilma com o panorama que se apresenta para nós. Comida nas alturas, mercado imobiliário paradão,  alugueis pela hora da morte e o tal do dinheiro que não chega ao final do mês. É a pobreza honrada que vai dar as caras nas urnas. Aquele pessoal que não está na miséria absoluta para fazer jus à Bolsa Família, mas cuja vida de remediado custa muito, muito dinheiro,  em seguro saúde, educação, alimentação, gasolina,  as pequenas vaidades, etc etc etc. Num país de tantos desonrados que  se dão bem às custas do povo e enchem as burras com o ouro dos tolos, a pobreza honrada pode fazer a diferença na hora da eleição.  Espero que faça.