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Crianças começam a semanas sem aula na Maré

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Era para ser apenas mais um início de semana tranquilo aqui no Complexo da Maré, sem tiros, sem ameaças, sem violações de direito. Porém, a rotina de violentas incursões militares caiu na normalidade, e bala perdida, tiroteio e limitação do direito de ir vir do cidadão viraram rotina.

Cerca de 11 mil crianças ficaram sem aula nessa segunda feira (29). Uma multidão de moradores ficou impossibilitada de ir aos seus respectivos trabalhos. O desespero da população pode ser acompanhado pelas redes sociais, através da página do Facebook Maré Vive.

A estratégia da Polícia Militar de contenção da violência é aumentar a violência. A dita guerra às drogas é a mais infeliz dessas tomadas de decisão por parte dos poderes públicos, se tornando paulatinamente a guerras aos pobres. A educação, saída acertada para planejar o futuro das nossas crianças e jovens, é atacada com uma ação que inicia às 5h da manhã, impedindo que crianças e professores cheguem à escola.

A impotência sentida por nós, moradores da Maré, é um sentimento que reconfigura nossa relação com esse espaço. O medo toma conta de nossos pensamentos, a angústia aumenta a cada dia, e as patologias da psicologia  vão sintomaticamente nos destruindo por dentro e por fora. Não nos resta esperar e sim agir. Nossas vozes e narrativas vão se configurando como uma arma utilizada na luta contra o nosso extermínio.

Parafraseando o meu grande amigo Clédisson Junior: “É da convergência dos desejos que a política plural emerge. A relação do meio com o todo forma a política contra política tradicional, a cosmopolítica”.

A Maré pede paz. 

* Walmyr Junior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ