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Mulheres na política

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Ao se encerrarem, proximamente, as comemorações do mês da mulher, vão ser dadas a conhecer, pelas entidades que se dedicam à sua defesa e inserção na vida política, algumas conclusões preocupantes, sem embargo de algum progresso já conquistado, nem sempre suficiente. Mas, sabe-se de antemão, o que vem aí é escasso em matéria de novidades, mas a repetição de estatísticas e reflexões do passado. O que não invalida, ao contrário justifica plenamente a expectativa de que os mesmos problemas envelhecidos sejam levados em conta, sem desanimar a consciência civilizada, só por serem velhos. E nisso vai um conteúdo de responsabilidades coletivas; responsabilidades que não escapam de todos. 

Nos dias atuais, nem mais nem menos que em ocasiões anteriores, a cada minuto que gira nos relógios, a mulher é vítima de constrangimentos físicos, morais e psicológicos. Um dado a complicar, como insistem as pesquisas, é que a quase totalidade das ofensas ocorre no âmbito doméstico. É onde a Justiça e as entidades defensoras esbarram em delicada realidade, igualmente antiga: a mulher (ou melhor, a maioria delas) tem preferido relegar a agressão, guardada em segredo, porque a intuição feminina manda sobrepor, ao sofrimento e a tudo, a desejável unidade do lar, ainda que dele pouco reste a ser salvo. O que não impede a quem está fora da tragédia, dela não sendo atores, de insistir que a vítima reaja, proteste, denuncie, independentemente das consequências. 

Outra constatação dos esperados relatórios, alguns com detalhes já antecipados, mas também longe de constituírem novidade, é o papel discreto que a mulher vem desempenhando na condução das decisões políticas, o que, de certa forma, até contrasta com sua crescente e eficiente presença no comando de grandes empreendimentos, seja na indústria ou na economia. Queixa-se de que a população feminina não chega a ter mais de 13% nos plenários legislativos, o que, sendo realmente verdade, nos compromete, pois somos, entre os países latino-americanos, o mais pobre em representação feminina. Para não se falar em algo pior: o Brasil fica em 155º lugar na lista dos que mais padecem dessa discriminação nas casas legislativas do mundo inteiro. 

Pois bem. Quando está em causa o sonho de ampliar o toque feminino àquelas casas, é inevitável recusar, de imediato, o argumento simplório e estrábico de que elas negligenciam na vida cívica. Não é assim. Parece, antes de tudo, fora de sintonia com a realidade, culpá-las; e nem basta levantar a questão dos números: elas são 51% do colégio eleitoral, podendo, se quisessem, até fazer maioria legislativa. Descubra-se, além do argumento aritmético, uma outra face da intuição feminina: seria conveniente, em nome da representação do gênero, e somente por ela, fazer parte da política que os homens construíram e, ao mesmo tempo, destruíram nos seus valores essenciais? Melhor não se envolver. 

A vida da mulher, como explicou Rangel Coelho em seus versos, é resultado de vibrações infinitamente sutis; um inconsciente capaz de reagir, parecendo que não reage; uma capacidade de distinguir o que nem todos conseguem. 

Se na política não entra, ou poucas entram, é por falta de afinidade com uma estrutura masculina criada e envelhecida na vida pública, sem faltar, para tanto, a predominância de dificuldades fáticas. Portanto, não é exatamente vero que a mulher desconsidera o interesse pela política; a política é que, sob dominação do homem, nunca se interessou por ela.