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Eleição: Pezão e Crivella se enfrentam no último debate antes do segundo turno

Pesquisas do Ibope e Datafolha divulgadas nesta quinta mostram Pezão com 55% e Crivella, 45%

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No último embate entre os candidatos à sucessão ao governo do Estado do Rio de Janeiro antes da votação no segundo turno da eleição, na noite desta quinta-feira (23/10), na Rede Globo de Televisão, Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB) deixaram de lado as propostas para trocar farpas e acusações, como tem acontecido nos debates anteriores. O clima esquentou logo no início do encontro, com direito à manifestação da plateia e até um alarme disparou, interrompendo os discursos dos dois postulantes. 

Um dos momentos mais polêmicos foi a divulgação pelo governador Pezão de um site criado pela sua campanha com informações de supostas irregularidades cometidas pelo seu adversário em gestões como ministro e senador. A coordenação da campanha de Crivella reagiu, afirmando que entrará com processo contra Pezão nesta sexta (24).

Entre as muitas acusações, os candidatos mencionaram os nomes do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), do ex-candidado à sucesso estadual no primeiro turno, Anthony Garotinho (PR) e do bispo Edir Macedo. O candidato do PMDB se referiu ao adversário como “bispo”, afirmando que Crivella mistura política com religião. Pezão disse ainda que o senador possui uma conta no exterior, em paraíso fiscal, financiado pela Igreja Universal. O governador convidou os telespectadores para visitar um sítio na internet onde está exposto "o verdadeiro Crivella". 

O candidato do PRB respondeu com agressividade: “Você perdeu o juízo, Pezão... Você não quer discutir política e a corrupção que faz parte do seu governo. Outro dia um garoto morreu, porque não tinha um helicóptero para ser transportado. Isso aconteceu porque o helicóptero estava sendo usado para transportar o cachorro do governador. E sobre a Universal, você estava puxando o saco do bispo Macedo na inauguração do templo [Templo de Salomão].

Apesar do tom de ofensa já no primeiro bloco, quando o senador Crivella criticou a gestão de Pezão, afirmando que ele recebe ordens do ex-governador Sérgio Cabral, o clima ferveu no segundo bloco, com o governador se referindo ao adversário como mentiroso. O motivo foi a apresentação de cifras investidas em saneamento básico pelo governo Cabral, que segundo o senador, foi de R$ 330 milhões, quase o equivalente a verba aplicada em publicidade no ano passado, revelando o valor de R$ 309 milhões. 

Ainda no segundo bloco, quando respondia a uma pergunta de Pezão sobre os seus planos na área de Segurança Pública, Crivella voltou a usar o nome de Cabral e atacar a atual gestão. "A questão da Segurança depende muito de um governador não estar envolvido em escândalos. De um governador não ir fazer dança na boca da garrafa ou com guardanapo na cabeça em Paris, se promiscuindo com empresários. Porque senão, você não tem moral. A Polícia Militar, parte expressiva dela, virou milícia. Vocês perderam o controle", disparou o candidato do PRB. Pezão sentenciou na sua réplica: "no meu governo, mando eu. O espelho da corporação vai ser eu. Você quer botar o bispo Macedo, de quem você é testa de ferro. Você falou de tudo, menos de segurança. A tropa vai ser meu espelho. Aqui não vai ter Edir Macedo nem testa de ferro, que você é".

A plateia também reagiu à troca de farpas, com vaias, aplausos e gritos. A mediadora do debate, Ana Paula Araújo, teve que interromper os candidatos diversas vezes para pedir silêncio aos convidados. No terceiro e último bloco, Crivella foi surpreendido por um alarme quando iniciava as suas considerações finais. "Parece que tem um alarme disparando”, disse o candidato do PRB. A mediadora do debate chegou a chamar os comerciais, mas a sirene parou. No entanto, quando o candidato do PMDB fazia o seu discurso, o alarme voltou a disparar, levando Pezão a uma gargalhada. O governador pediu para o seu tempo ser restabelecido. No final do encontro, Ana Paula Araújo explicou que o alarme era falso e que todos estavam bem no estúdio. 

Nas redes sociais, os internautas encontraram outra explicação para o alarme, que seria um detector de mentiras que havia disparado em função dos discursos dos candidatos. Crivella afirmou para a imprensa, após o debate, que o alarme disparou para Pezão. Já o governador, disse que a sirene tocou com a aproximação do ex-candidato, Anthony Garotinho, que teria ido busca a sua filha Clarissa Garotinho, deputada federal eleita pelo PR, que está apoiando Crivella no segundo turno.  

Entre os convidados na plateia estavam o deputado federal reeleito Pedro Paulo (PMDB), deputado estadual eleito Carlos Osorio (PMDB), os deputados estaduais Pedro Fernandes (SD), André Correa (PSD) e Clarissa Garotinho (PR).

Pesquisa

Nesta quinta-feira (23), os Institutos Datafolha e Ibope divulgaram pesquisas de intenção de voto para a sucessão estadual. O estudo do Ibope mostra o candidato á reeleição, Luiz Fernando Pezão, com 55% dos votos válidos, enquanto Marcelo Crivella tem 45%. 

A pesquisa Datafolha aponta os mesmos percentuais do Ibope. Já pelos dados do Instituto Gerp, divulgados também nesta quinta, Crivella lidera com 51% dos votos válidos e Pezão aparece com 41%.

>> Ibope e Datafolha: Pezão tem 55% e Crivella, 45%

O debate

O debate desta quinta foi dividido em três blocos. No primeiro, o tema foi livre. Cada candidato perguntou e respondeu duas vezes sobre assuntos propostos pelo adversário. No segundo bloco, o tema foi sorteado de temas pré-estabelecidos pela produção do debate. Quem abriu o bloco perguntando foi o candidato que começou o primeiro bloco respondendo. O terceiro bloco foi apenas das considerações finais.

Primeiro bloco

O candidato sorteado pela mediadora para abrir o debate foi Luiz Fernando Pezão, que escolheu o tema Segurança para iniciar a rodada de perguntas. Pezão questionou Crivella sobre os seus planos para o setor, ressaltando que o governo do PMDB fez um grande esforço para implantar as UPPs e libertar mais de 450 mil moradores do domínio do tráfico no estado. Crivella respondeu que pretende manter o programa das UPP, mas deve promover mudanças, porque "faltou inteligência". "A UPP é boa, mas não pode ser feita de qualquer jeito. Muitos bandidos também migraram para outras regiões do estado. Isso trouxe muito desprestigio para as UPPs", disse o senador. 

Na sua réplica, Pezão garantiu que vai expandir as UPPs para a Baixada e Niterói, aumentar o número de policiais formados para 60 mil e criticou Crivella por não apresentar no Senado nenhuma emenda que beneficiasse o programa no estado. "Você está equivocado, Pezão. O projeto que fiz para dar poder de polícia aos exércitos das fronteiras. Essa lei é minha. Isso foi uma contribuição enorme para o controle da entrada de armas nas fronteiras", rebateu o senador.

Por sua vez, Crivella escolheu a educação para sabatinar o adversário. O candidato do PRB afirmou que o governo Cabral/Pezão fechou 300 escolas e também prendeu mais de três mil bandidos, sendo que 80% deste contingente é de menor de 18 anos. "Você não acha terrível fechar escola e prender menores?", perguntou Crivella ao candidato à reeleição. Pezão respondeu que o seu governo abriu 49 escolas, valorizou os professores e colocou a educação em terceiro lugar no ranking do Ideb [Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico]. Crivella, voltou a afirmar que mais de 500 mil jovens estão fora do mercado de trabalho, por falta de instituições técnica. Na sua tréplica, o governador afirmou que o estado tem, atualmente, 280 mil alunos na Faetec e esta estatística será melhorada. 

A saúde entrou na discussão dos candidatos. Pezão afirmou que o estado precisa apoiar os municípios no setor, para em seguida perguntar ao adversário do PRB sobre os seus planos para a atenção básica. Crivella considerou a saúde no estado "péssima", com uma fila invisível esperando por cirurgias. Segundo o candidato, se eleito irá reunir os sindicatos de médicos e outros órgãos representativos para encontrar uma solução para o problema. Ele pretende ainda fazer consórcios intermunicipais, melhorar o programa de saúde da família e criar política de carreira para os profissionais da área. 

Na réplica, Pezão promete avanços na atenção básica, investir em UPAs, na carreira do médico e das enfermeiras e não acabar com as OSs, considerando que o sistema permitiu a população ser atendida por médicos de ponta. "Não convence Pezão. A saúde começa com água tratada, com esgoto. Você sabe quanto seu governo investiu em saneamento? R$ 330 milhões. E em propaganda? R$ 309 milhões. Praticamente o que você investiu em saúde, investiu em propaganda", atacou Crivella na sua tréplica, acrescentando que o estado é um fracasso na saúde, porque investe somente 7% no setor e está no 15º lugar na classificação do Ministério da Saúde.

O último tema abordado no primeiro bloco foi a tragédia na região serrana, no ano de 2011. Crivella perguntou a Pezão os motivos do seu governo ter investido pouco na recuperação das cidades afetadas, apresentando valores destinados pelo governo federal e que não foram compatíveis com as obras entregues até hoje. Segundo o governador, o processo de recuperação das cidades é complexo e muitas melhorias já foram entregues à população e que parte do dinheiro teve que ser revertido para indenizações. 

Crivella alegou que o governo não tem recursos técnicos para finalizar os trabalhos na serra e nem os viadutos de acesso foram feitos. "O viaduto, pode ficar tranquilo que nós vamos construir", rebateu Pezão. "Você está há 12 anos no Senado, podia ter discutido a lei de emergência, tem que discutir para mudar as leis. Vamos entregar tudo o que prometemos", disse Pezão, prometendo novas habitações até dezembro.

Segundo bloco

Rodada de perguntas e respostas a partir de temas estabelecidos pela produção do debate e sorteado pela mediadora.

Saneamento

Crivella perguntou a Pezão para o seu governo investiu apenas R$ 330 milhões em saneamento, comparando com os R$ 309 milhões aplicados em propaganda. O governador alegou que a sua administração assumiu com uma dívida de R$ 6 bilhões da Cedae, tendo que pagar R$ 2,2 bilhões ao governo federal. "Se tivéssemos esse recurso, investiríamos na Baixada", disse Pezão. Segundo ele, o estado levou água para mais de 10% dos municípios de São Gonçalo. "Conseguimos fazer a maior obra da Cedae, o complexo do Guandu 2 e entregar para a Baixada", destacou.  

"Se tem rua asfaltada, por que não tem água, não tem esgoto?", questionou o senador na sua réplica. "É tudo propaganda", criticou Crivella. Pezão esquenta o clima com a sua tréplica. "Esse convívio seu com o Garotinho está muito ruim. Você esta mentindo igual a ele", comentou Pezão. O governador destacou investimentos feitos na Baixada e prometeu mais investimentos em saneamento. 

Segurança

Pezão pergunta para o candidato do PRB sobre os seus planos para a segurança do estado. Crivella responde com ataques: "Vocês dançam na boca da garrafa, com guardanapo na cabeça em Paris. Um governador não pode ter tanto escândalo. Vocês perderam o controle. A polícia virou milícia". Na sua réplica, o governador esquenta de vez o clima no debate. "Crivella, te fiz uma pergunta sobre segurança e você veio com ataques. No meu governo, quem governa sou eu. O espelho da corporação sou eu. Você quer botar aqui o bispo Macedo, que você é testa de ferro. E quem diz isso não sou eu, é um procurador federal", disse Pezão. Em seguida, o governador forneceu um endereço eletrônico e convidou o eleitor para "ver o que eu estou afirmando aqui". 

Na tréplica, Crivella acusa Pezão de ter 'perdido o juízo'. "Você não quer discutir política com corrupção, porque integra um governo corrupto, e quer misturar política com religião. Se Bispo Macedo é tão poderoso assim na minha campanha, por que Bispo Macedo não colocou dinheiro na minha campanha?", questionou o senador. 

Investimentos para os municípios

Crivella pergunta a Pezão como a sua gestão pretende tratar os municípios endividados. Antes de responder ao questionamento, Pezão se dirige ao senador para afirmar que é ficha limpa como ele se denomina e afirmar que dos processos contra ele citados no blog mantido pelo senador, quatro já foram arquivados. "Você que precisa explicar para o eleitor neste segundo turno as contas em paraísos fiscais. Como conseguiu dinheiro para comprar uma emissora de TV", disse Pezào. Com relação a dívida ativa, Pezão afirmou que o estado está pagando os municípios parceladamente. 

Na réplica, o senador acusou Pezão de fugir do debate. "Você que está pregando o ódio e foi você que começou me chamando de mentiroso", criticou Crivella. 

Transporte

Pezão pede ao adversário para apresentar os seus planos para o setor. Crivella disse que vai priorizar o fim das agências reguladoras as indicações de políticos. "Temos passagens de metrô e ônibus mais caras do Brasil. Os trens da Central há muito podiam ser metrô de superfície. Era para transportar dois milhões de pessoas. O Bilhete Único no Rio é via Fetranspor. Não temos barcas para Baixada Fluminense, porque quem manda é o interesse dos empresários", descreveu o candidato do PRB. Pezão rebateu afirmando que o seu governo está comprando mais trens, até abril do ano que vem, quando toda a frota estará renovada. O pemedebista disse ainda que o estado adiquiriu nove barcas, sendo que a primeira chega em novembro, que vai fazer a ligação com a Ilha do Governador. Além disso, a sua gestão conseguiu levar o metrô até a Barra da Tijuca, na Zona Oeste.

Terceiro bloco

Os candidatos tiveram tempo para as suas considerações finais. No início do seu discurso, Marcelo Crivella foi interrompido por um alarme. A mediadora do debate cogitou chamar os comerciais, mas o problema foi resolvido. Crivella começou a sua fala agradecendo e afirmou que a sua proposta é de mudança. O senador condenou os casos de corrupção do atual governo e pediu ao eleitor uma chace de governar o estado. 

Antes do governador iniciar o seu discurso, o alarme voltou a tocar. Pezão sorriu e pediu que o seu tempo fosse restabelecido. O candidato do PMDB afirmou que a sua proposta é de continuidade os projetos já em andamento e de novas mudanças. "Nós sabemos como pegamos esse estado. Não tinha uma UPA, uma UPP, uma lei seca. Eu quero ser governador para continuar a implementar essas mudanças", disse. "Levar o ensino médio diurno com ensino profissionalizante, espalhando o trabalho técnico. Tirar os projetos do papel, como o Arco Metropolitano, que até o fim do ano vai ter dez empresas, que vão permitir aos moradores da Baixada morar e trabalhar lá", garantiu o governador. 

No final do encontro, a mediadora explicou que o alarme disparado duas vezes era falso e todos estavam bem no estúdio. Neste momento, a sirene voltou a tocar. Nas redes sociais, o episódio foi motivo de muitos comentários e brincadeiras.