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Paes já disse que Lula "é omisso com corrupção". E agora, que dizer de Bethlem?

Enquanto denúncias contra Rodrigo Bethlem explodem no Rio, Paes mantém silêncio

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Em 2005, quando houve a polêmica alimentada pela oposição para criticar a medida provisória do Governo Federal que autorizava a criação de novos cargos, o então deputado federal Eduardo Paes (PSDB-RJ) girava sua metralhadora em direção ao presidente Lula e não economizava nas acusações: "É o Estado sendo utilizado para engolir o dízimo do PT. O Delúbio Soares deve ter comemorado cada uma dessas medidas provisórias", disse Paes naquela época à Revista Veja. Dois meses depois, fez outro ataque à Presidência, no dia 24 de agosto, para a mesma revista: "Está na hora de os caras-pintadas da UNE, que recebem recursos vultuosos, deixarem de fazer passeatas vagas, como se o atual governo não tivesse relação com a corrupção". 

No mês seguinte, Paes voltou às páginas da Veja para citar o nome do presidente Lula, de forma depreciativa, claro: "Severino adotou o modo Lula de ser. Começa negando as acusações. Depois, responsabiliza adversários por erros que cometeu. O próximo passo será dizer que foi traído", disse ele se referindo à Severino Cavalcanti, então presidente da Câmara, acusado de receber R$ 10.000 mensais do concessionário do restaurante da Câmara, de março a novembro de 2003. 

A artilharia pesada se manteve em 2006, ano marcado pela eleição presidencial. Paes pegou uma carona na CPI dos Correios para despejar uma série de acusações contra o Governo do PT. Como deputado federal e relator-adjunto da CPI, disse na época que alguns parlamentares foram beneficiados pelo mensalão, mas deveriam ser "perdoados" na Câmara. E foi nesse episódio que Paes comentou: "Há um corporativismo ferrenho. É por isso que os deputados envolvidos não empobreceram, não andam pelos cantos e estão gordinhos e bronzeados". 

No início de 2006, uma reportagem do Jornal do Brasil - "PT vai entrar na Justiça contra Fernando Henrique" - destaca as acusações feitas pelo ex-presidente FHC contra o Partido dos Trabalhadores e também contra Lula: "A ética do PT é roubar e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é omisso com corrupção". Eduardo Paes, naquela época secretário-Geral do PSDB, endossou as declarações de FHC: "não falou nada além da verdade". Dias depois, Paes se irritou com a divulgação de uma pesquisa acerca da popularidade do governo federal que dava à Lula maior credibilidade e carregou nas acusações: "o petista voltou à liderança nas pesquisas devido a uma combinação de desfaçatez e cara-de-pau". Paes prometeu desmascarar Lula durante a campanha eleitoral naquele ano e ainda apontou como arma poderosa do PSDB o ex-presidente FHC, que "sabe como ganhar da demagogia e da farsa que é o PT".

Em março de 2006, quando foi apresentado o relatório final da CPI dos Correios, Eduardo Paes encabeçou o coro das críticas contra o PT e o presidente Lula na bancada da oposição na Câmara. "Não vou participar da dança da pizza. Há provas documentais e testemunhais para pedir o indiciamento dos dois", afirmou Paes se referindo ao pedido de indiciamento dos ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken. Ás vésperas das eleições naquele ano, o atual prefeito do Rio afirmou durante uma entrevista no portal UOL que "o Governo Lula fez muito mal ao Brasil". 

Agora, em 2014, o braço direito de Eduardo Paes, Rodrigo Bethlem, que inclusive coordenou a campanha de sua reeleição, em 2012, e como prova de confiança já teve sua passagem nas secretarias Ordem Pública, Assistência Social e Governo do prefeito Paes, é acusado de denunciado pela sua ex-mulher, Vanessa Felippe, de envolvimento em esquema de corrupção na prefeitura. Pelas conversar entre Vanessa e Bethlem, que foram gravadas sem ele saber pela própria ex-mulher, o deputado assume ter recebido uma espécie de mesada da ONG Casa Espírito Tesloo, entre 2011 e 2012, além de receber cerca de R$ 100 mil mensais em propinas através de processos firmados com a sua secretaria e ainda possuir conta não declarada na Suíça. Mesmo com tantas evidências e confissões do próprio deputado federal, Paes, desta vez, não apontou sua artilharia contra seu ex-secretário de Desenvolvimento Social.

O vereador Jefferson Moura (Psol) acredita que o prefeito Eduardo Paes está tentando preservar a imagem do seu governo, quando nega uma postura mediante as denúncias contra o seu "super secretário" Bethlem, acusado de atos ilícitos. Para Moura, Paes está diante da oportunidade de fazer a coisa certa, que para o vereador seria propor a sua base assinar o pedido de CPI para apurar as denúncias.  "Ele foi muito atuante na CPI dos Correios, agora era hora de tomar a mesma postura", disse o vereador.

"Não só Eduardo Paes, mas Pezão e todo o PMDB foi atingido pelo escândalo Bethlem", afirmou o vereador Márcio Garcia (PR/RJ). Integrando o grupo de vereadores que solicitaram a instalação da CPI na Câmara, Garcia questiona a que ponto o prefeito Paes sabia dos fatos denunciados por Vanessa Felippe. Ele acredita que pelos meios legais é possível chegar à verdade em breve. Enquanto isso, ele continua questionando os motivos do silêncio do prefeito com relação ao caso.