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'O que meu governo jamais fez foi compactuar com a corrupção', diz Dilma

Ex-presidente fala sobre Temer como 'cara frágil', 'medroso', que 'não enfrenta nada'

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Dilma Rousseff destacou em entrevista ao jornal Valor que "saber demais não significa que você é capaz de impedir algumas coisas", sobre o conhecimento de irregularidades quando estava no governo. "(...) o que eu tenho certeza que o meu governo jamais fez foi compactuar com a corrupção. Entro num tema que acho sério, que é o sincericídio do ministro por um mês, do Planejamento, o senador [Romero] Jucá, quando disse que tinha que estancar a sangria e usou palavras, assim, pornográficas para descrever as relações políticas no Brasil".

O jornal destaca que foi na gestão de Dilma que Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras, afastou diretores suspeitos e cerceou contratos geridos por eles. "Se não achasse importante o combate à corrupção, não teria sancionado a lei da delação premiada, não teria respeitado a Polícia Federal, não teria respeitado o Ministério Público, nem nomeado ministros [do STF] que tivessem uma inequívoca biografia", comentou Dilma Rousseff.

"Saber quem eles são [políticos do PMDB, que faziam parte do governo Dilma], nós sabemos. Não tenho a menor dúvida de quem é Padilha e Geddel [Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo]. Convivi sabendo quem eram. Não tenho esse 'caiadismo' [de Ronaldo Caiado] de falar que eu não sabia quem eram. Sabia direitinho. Inclusive uma parte do que sou e da minha intolerância é porque eu sabia demais quem eles eram", comentou a presidente eleita, que recebeu o Valor em seu apartamento..

"Algumas coisas são absurdas, outras não consegui impedir. Porque para isso eu tinha de ter um nível de ruptura mais aberto, e eu não tinha prova, não tinha certeza, entendeu? (...) Posso contar mil coisas do Padilha e do Temer, então? Porque o Temer é isso que está aí, querida. Não adianta toda a mídia falar que ele é habilidoso. Temer é um cara frágil. Extremamente frágil. Fraco. Medroso. Completamente medroso. (...) É um cara que não enfrenta nada!", completou.

A ex-presidente também comentou sobre o que seria o recente esforço de políticos, como o senador Aécio Neves (PSDB), de alertar para uma suposta "criminalização" dos políticos. " "O combate à corrupção no Brasil mais uma vez virou uma arma ideológica. Enquanto as investigações estavam sobre o PT, ou alguém do PT, não havia problema em vazamento, não havia problema em 500 mil pesos e mil medidas. Agora tem. Uma coisa que, visivelmente, em qualquer país do mundo, seria caso de quebra da segurança nacional, que é gravar o presidente sem autorização do Supremo, tudo isso foi permitido. Agora, quando chega ao PMDB ou PSDB, é criminalização da política."

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Impeachment

Para Dilma, o impeachment decorre de um desarranjo global, nas palavras da entrevistadora Maria Cristina Fernandes -- financeirização, aumento da desigualdade e Estado de exceção. A retirada da presidente do poder serviria então para resgatar a liberalização econômica, com o fim da política de conteúdo nacional, e reverter políticas sociais, com a implantação de uma reforma trabalhista e previdenciária, propostas pelo governo de Michel Temer e que foram, inclusive, motivo de greves e protestos no país inteiro na última quarta-feira (15). 

Questionada sobre o discurso de despedida da presidência, quando frisou que cometeu erros, mas não crimes, respondeu: "Vou te falar, acho que cometi um erro importante, o nível de desoneração de tributos das empresas brasileiras. Reduzimos a contribuição previdenciária, o IPI, além de uma quantidade significativa de impostos. Com isso, tivemos uma perda fiscal muito grande. Nossa expectativa era evitar que a crise nos atingisse de forma pronunciada. Por isso, aumentamos também o crédito, mas acho que aí não erramos."

"Erro foi a desoneração porque, ao invés de investir, eles aumentaram a margem de lucro às custas de mais fragilidade nas contas públicas. Se for olhar o nível de despesas de pessoal no meu governo, é menor do que nos anteriores. A crise fiscal não derivou de excesso de gastos, mas essa renúncia tinha a intenção de beneficiar o conjunto da economia, o que não ocorreu", completou Dilma Rousseff.