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Professores e entidades de ensino criticam ação da PF na UFMG

Operação realizou condução coercitiva do reitor e de outros membros da universidade

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A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira (6) 11 mandados de busca e apreensão e 9 mandados de condução coercitiva em uma ação que apura desvios de recursos públicos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para implantação do Memorial da Anistia Política do Brasil.

A operação, denominada "Esperança Equilibrista", tem a participação do Ministério da Transparência e da Controladoria-Geral da União (CGU). Segundo a investigação, foram apurados desvios de R$ 3,8 milhões de recursos vinculados ao memorial.

Além disso, na execução e na prestação de contas da iniciativa, foram verificadas irregularidades, como: falsificação de documentos, pagamento de estágio a pessoas sem vínculo estudantil, desvio de valores para outras contas estranhas ao projeto, além de gastos não relacionados ao objeto da obra, de acordo com a PF.

O projeto inicial do museu passou de R$ 5 milhões para quase R$ 30 milhões, sendo que o valor gasto até o momento é de R$ 19 milhões. A obra envolve construção, reforma de edifícios e produção de conteúdo da exposição, com vistas à preservação e difusão da memória política dos períodos de repressão.

Entre os conduzidos coercitivamente, estão o reitor da UFMG, Jaime Arturo Ramirez, a vice-reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, o presidente da Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa (Fundep), Alfredo Gontijo de Oliveira, e as ex-vice-reitoras Rocksane de Carvalho Norton e Heloisa Gurgel Starling, está última coautora do livro Brasil: Uma Biografia, com a historiadora Lília Moritz Schwarcz, da USP.

A operação foi bastante criticada por diversas entidades. Entre as quais, o Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino (Sindifes), cuja representante Cristina Del Papa sustentou que a ação da PF teve viés político. "A UFMG sempre se mostrou contra a privatização das universidades federais. As instituições estão sendo atacadas. Para nós, do movimento sindical, isso é ação coordenada para destruir, descredenciar a imagem da UFMG, ao pegar as lideranças, no caso os reitores, e destruir a credibilidades deles", afirmou.

A presidente da CUT-MG, Beatriz Cerqueira, classificou a operação como "espetáculo" e afirmou que a mídia cobre essas ações sem questionar nem ponderar sobre o que a polícia está fazendo com as universidades públicas e com a sociedade. “Poucas perguntas serão feitas pela mídia comercial, as pessoas serão condenadas, antes sequer de serem acusadas e julgadas. Não haverá o contraditório! Nós faremos o contraditório!”, concluiu Beatriz.

Nas redes sociais, entidades de educação, professores e acadêmicos fizeram alusão ao caso do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que cometeu suicídio no início de outubro, após ser preso, algemado e ver sua foto circulando nas redes sociais. Cancellier era suspeito de obstruir uma investigação sobre desvio de recursos na UFSC. Ao deixar a prisão, foi também proibido de entrar na universidade. "A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade", escreveu o reitor em bilhete de despedida.

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Em nota, a UFMG afirmou que por se tratar de apuração que tramita em sigilo, não pode se manifestar sobre os fatos que motivam a investigação em curso. "Entretanto, dada a transparência com que lida com as questões de natureza institucional, a UFMG torna público que contribuirá, como é sua tradição, para a correta, rápida e efetiva apuração do caso específico", completou o comunicado.