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Moscatelli sobre união de universidades em prol da Baía de Guanabara: 'ótima notícia, porém tardia'

Para biólogo, a medida chegou tarde se visar exclusivamente os Jogos Olímpicos 

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A notícia de que sete universidades cariocas, aliadas com três centros de pesquisas, se uniram com o governo do Estado em prol de um objetivo comum de limpar as águas da Baía de Guanabara, foi vista com bons olhos, porém com certa desconfiança pelo biólogo Mário Moscatelli. Moscatelli é mestre em ecologia com concentração na área de gerenciamento costeiro e recuperação de ecossistemas costeiros e coordena o Projeto Olho Verde, que tem como objetivo a criação de uma ferramenta objetiva e operacional para o gerenciamento da zona costeira. Em conversa com a reportagem do Jornal do Brasil, o biólogo comentou sobre a ‘força-tarefa’.

Sobre a iniciativa, Moscatelli classificou como uma “ótima notícia, porém tardia, se associada exclusivamente aos Jogos Olímpicos 2016”. Para o biólogo, o que falta para que a Baía de Guanabara possa ser limpa não são medidas extremas, mas sim gestão política.

“A Baía de Guanabara está podre, e não é por falta de conhecimento técnico e nem de dinheiro. O que falta historicamente é gestão. Gestão de recursos econômicos que de tempos em tempos são derramados às centenas de milhões de dólares na Baía sem que haja nenhum resultado ambiental. Gestão técnica dos projetos megalomaníacos onde os erros que são cometidos ficam sem punição. Além de uma fiscalização ‘espartana’ de como se usa o dinheiro que é investido para recuperar a baía”, comentou.

Apesar da desconfiança das verdadeiras intenções das autoridades em relação ao interesse de limpar, de fato, a Baía de Guanabara, o biólogo enxerga com bons olhos, porém alerta para o fato de que até o início dos Jogos, não há tempo hábil para a limpeza da água.

“Se houver uma gestão efetivamente, voltada para a implementação de políticas públicas de habitação, transporte e saneamento, quem sabe daqui a uns vinte anos a situação melhora. Se tivermos como horizonte as olimpíadas de 2016, eu diria que as ações emergenciais deveriam estar relacionadas com o combate ao aporte de resíduos por meio de ecobarreiras mais eficientes e da faxina manual das margens e do espelho d’água da baía. Com isso podemos melhorar a situação, mas não resolver por completo, pois são lixos de décadas”.

Sobre a presença de especialistas que já tiveram participação em trabalhos semelhantes como no caso das limpezas das baías de Chesapeake (EUA), Brest (França) e Sidney (Austrália), Mário Moscatelli comentou que realmente a melhora foi progressiva, mas lembrou que a cultura destes lugares é um pouco diferente da nossa.

“O processo de recuperação é continuo e não termina, eu, por exemplo, realizo um projeto há 26 anos na Lagoa, recuperando manguezais. Nos projetos realizados nestas baías estrangeiras o trabalho continua e tem apresentado avanços progressivos. Porém, faço questão de lembrar que por lá existem coisas básicas como vontade política e gestão profissional, que por aqui continua em falta”, explicou.

A participação do governo do Estado no acordo se dará através das secretarias de Ciência e Tecnologia, Ambiente e da Câmara Metropolitana de Integração Governamental.

Veja a lista das instituições que vão participar do acordo:

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ)

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Universidade Federal do Rio de Janeiro (Uni-Rio)

Universidade Federal Fluminense (UFF)

Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ)

Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz)

Fundação Getúlio Vargas (FGV)

Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (Marinha)

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Estudo indica que poluição nas raias olímpicas causa risco à saúde dos competidores mas Inea rabate

No último dia 30, um estudo divulgado pela Universidade Feevale, a pedido da Associated Press, indicou que as competições na Baía de Guanabara vão acontecer em um ambiente inóspito, contaminado por fezes humanas e com sério risco de doença para os atletas.

Ainda no dia 30, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) divulgou uma nota rebatendo o estudo divulgado pela Feevale. Segundo o Inea, o órgão "monitora há 37 anos e garante a qualidade da água em todos os pontos das raias olímpicas, com exceção da Marina da Glória". Tanto pelos parâmetros europeus quanto americano, a qualidade da água está apta para a realização das provas.

O estudo encomendado pela Associated Press repercutiu na imprensa estrangeira, tendo sido publicado, inclusive, no “New York Times”, principal jornal dos Estados Unidos.